sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Crítica: ‘Ainda orangotangos’ mostra o lado b de Porto Alegre

Filme em plano-seqüência é estréia em longas de Gustavo Spolidoro.
Produção, que estréia nesta sexta (7), é baseada em livro de Paulo Scott.


Filmar um longa-metragem em um único plano-seqüência é sinal de coragem. Estrear em longas com um filme em que não há cortes durante toda a projeção é quase loucura. Mas uma loucura saudável, de quem ainda não sabe quais são os seus próprios limites. Foi essa a escolha do porto-alegrense Gustavo Spolidoro, que fez carreira nos curta-metragens e agora se aventura em “Ainda orangotangos”, que estreou nesta sexta-feira (7).

Baseado no livro homônimo de Paulo Scott, o filme transborda referências a Porto Alegre, como músicas de grupos da região - entre elas o hino não-oficial da cidade, “Amigo punk” - paisagens urbanas, sotaques e gírias locais e, claro, lembranças ao Grêmio e ao Internacional.

Spolidoro costura os diversos contos de Scott que narram cenas do lado b da cidade: um japonês que abandona a mulher morta no trem, o casal de lésbicas que discute futebol e briga com um papai noel bêbado, uma mulher esquizofrênica que pensa estar sendo perseguida, uma dupla que apela para perfumes na falta de bebida em casa, o velho abordado por um insano que deseja publicar um livro, o professor de música que vai ao aniversário de sua pupila criar problema. Isso tudo, sem que o câmera tenha ouvido uma única vez a palavra “corta”.

Histórias quase banais

Se a inventividade narrativa é louvável, os temas das historinhas são quase banais, parecem fazer um esforço para chocar o espectador, quando, muitas vezes, são apenas chatos. Querem mostrar os excluídos, os diferentes, os ignorados pela sociedade, que já apareceram tantas vezes em livros e filmes ditos alternativos que são figuras já conhecidas.

De qualquer maneira, pelo seu ritmo e pelo seu tamanho – cerca de 80 minutos –, o longa-metragem não cansa, pelo contrário, é instigante. Spolidoro parece seguir a cartilha do "é melhor fazer as coisas do meu jeito, mesmo que de maneira imperfeita, do que não fazer". O resultado, como sempre nesses casos, é produtivo. O filme esbanja jovialidade, vigor punk, tem uma urgência e um frescor que deveria envergonhar quem acha que porque fez dois filmes pode deitar em berço esplêndido.

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