sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Crítica: ‘Mandela’ conta mais que a história do líder sul-africano

Filme, que estréia nesta sexta-feira (10), mostra trajetória de ex-presidente.
Longa-metragem é baseado em livro sobre a história real de carcereiro.


“Mandela – uma história de liberdade” surpreende o espectador que espera apenas a história do líder sul-africano que ficou preso durante quase três décadas por se opor violentamente ao regime do apartheid em seu país. “Goodbye Bafana”, título original, mostra isso, é claro, mas vai além.

Sem cair na pieguice, o longa, que estréia nesta sexta-feira (10), conta como o guia de uma nação dividida e oprimida é construído, além de mostrar resumidamente a situação social de um país em que, apesar de maioria, os negros eram tratados como inferiores até o fim do século 20.

Pode-se dizer que há endeusamento excessivo do advogado Nelson Mandela, ex-chefe de uma organização rebelde ao governo que, na década de 1990, se transformou no primeiro presidente eleito pela África do Sul unida. Mas, se há exagero, isso ocorre principalmente porque o filme é narrado sob a perspectiva de um fã de Mandela.

História real

“... Bafana” se baseia em um livro sobre a história real do carcereiro James Gregory, interpretado no filme com equilíbrio por Joseph Fiennes (de “Shakespeare apaixonado”), que tomou conta do futuro Nobel da Paz por quase toda a época em que esteve preso. Gregory chega à prisão onde Mandela está confinado acreditando que ele deveria ter sido enforcado quando capturado e se transforma em um admirador incondicional do prisioneiro.

Dennis Haysbert (que faz o presidente David Palmer na série “24 horas”) se sai bem com sua voz gravíssima no papel do homem que, mesmo atrás das grades, nunca perde a força, o poder nem a elegância. Talvez incomode os mais puristas a caracterização, já no fim do filme, de um Mandela idoso, mas sem rugas, apenas com cabelos esbranquiçados. Porém, o incômodo passa rápido.

Diálogos em xhosa

A direção do dinamarquês Bille August (de “A casa dos espíritos”) é essencial para tirar a pasteurização do filme e não resvalar na mediocridade. Apesar do tema do preconceito racial já ter sido visitado por diversos filmes, ele acrescenta detalhes que enriquecem a obra, como diálogos em xhosa, uma das línguas faladas na África do Sul.

E, apesar de recursos batidos para “justificar” a amizade entre Mandela e Gregory, como o amigo de infância negro de infância do carcereiro, August não exagera em cenas que tinham tudo para serem forçosamente lacrimosas, como o encontro da família Mandela.

Paralelo histórico

Outro ponto interessante em “... Bafana” é enxergar paralelos históricos com a política do mundo de hoje. Para justificar o apartheid, a mulher de Gregory (Diane Kruger) argumenta que o país vive em guerra, os negros odeiam os brancos, e que a divisão racial sul-africana é uma decisão de Deus, não devendo ser discutida. Qualquer semelhança com os argumentos apresentados pelos governantes de certo país na América do Norte para invadir nações islâmicas não podem ser coincidência.

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