quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Documentário sobre Bope tem cenas reais e policial se vangloriando de matar

Filme mostra suposto traficante falando de sua atuação em favela carioca.
Produzido para ser exibido na Europa, versão pirata é vendida em camelô.


Documentário acompanhou operações do Bope e da Core (Foto: Reprodução)

O Batalhão de Operações Especiais (Bope), a tropa de elite do Rio, que fez sucesso com o filme homônimo de ficção, volta às telas. Dessa vez, no documentário “Bope, o Lado Obscuro do Rio”, com cenas reais e depoimentos de cara limpa, sem vozes distorcidas de policiais e de supostos criminosos. Numa cena, um policial se vangloria de matar.

Veja a galeria de fotos do filme

Veja cenas no Extra Online

O vídeo foi gravado para ser exibido apenas em Portugal e na França, mas é vendido em versão pirata nas ruas do Centro da cidade com o título de “Tropa de Elite 2”, “Tropa de Elite 3” e até “Tropa de Elite 4”. Na cópia que o G1 obteve, está inserido um selo da rede portuguesa RTPi - Rádio e Televisão Portuguesa Internacional.

Bope: ‘Haverá sangue’

“Tudo parece calmo e, de repente, é o caos. Parece uma guerra civil, mas isto é uma manhã normal no Rio de Janeiro”, diz o narrador, com sotaque de português de Portugal.

Logo em seguida, aparecem cenas de criminosos andando armados nas favelas e os homens do Bope e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) em ação.

Policiais em ação e traficantes são ouvidos (Foto: Reprodução)

Policiais dão depoimentos: um se vangloria de matar uma pessoa, outro adverte que “haverá sangue”. Promessa feita e cumprida: no final do documentário, imagens de manchas de sangue no carro blindado da polícia durante uma operação do Bope em Santa Teresa, no Centro. A vítima não está identificada, e o policial diz:

“Ele, mesmo com dois tiros no peito, correu 20 metros”, conta o homem do Bope, depois de receber os parabéns dos colegas. A produtora do documentário pergunta se o suspeito, que estava armado, reagiu e ele responde: “Não teve tempo”.

‘Sensação de dever cumprido’, diz policial

Um oficial, apontado como o responsável pela operação, garante que não houve truculência. “Me sinto com o dever cumprido, porque é menos um marginal na sociedade. Estamos aqui para prender, mas, se eles atiram na gente, temos que revidar”, completa, identificado apenas como tenente Luciano.


Procurado pelo G1, o secretário de Segurança José Mariano Beltrame não quis comentar as declarações, mas disse que, se ficar comprovado que não houve confronto, o policial deve responder por homicídio. Segundo sua assessoria, a Secretaria autorizou há alguns meses a gravação de imagens do Bope por uma equipe francesa.

Traficantes mostram o rosto

Para mostrar o outro lado da moeda, a equipe foi ao Morro do Cantagalo, em Copacabana (Zona Sul), e disse ter pago R$ 1 mil para ter um guia na favela. Lá, um homem que seria o chefe do tráfico na área, declara que os criminosos ajudam mais à comunidade que o governo.

“Fazemos o que o governante não faz: damos remédio, passagem. O desemprego é tão grande e a saúde tão precária que eles se revoltam e vêm para o crime, onde têm um salário muito mais alto, de R$ 5 mil a R$ 10 mil por mês.”

Na mesma comunidade, a equipe de filmagem apresenta Jonathan, de 23 anos, que manifesta vontade de abandonar o tráfico.”Não quero morrer cedo. Só tenho um filho e quero ver os filhos dele ainda.”

Sala de armas da Core: 260 mil itens (Foto: Reprodução)

Números

Em outra cena, na sede da Core, no Centro do Rio, o filme mostra uma sala com armamento apreendido. O narrador informa que ali estão guardadas 260 mil armas.

O vídeo mostra também um treinamento do Bope. Os policiais dizem que carregam 37 quilos de equipamentos, usado em ação, e que, no treinamento, servem como pesos para os exercícios abdominais.


O documentário cita uma estatística em que, diz o narrador em off, constam 1.260 mortos durante os confrontos só no ano de 2007 - 33% a mais do que em 2006.

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