quarta-feira, 29 de abril de 2009

Crítica: X-Men Origens: Wolverine

Bastante falho, “X-Men Origens – Wolverine” só se sustenta graças ao carisma de seus atores principais e à sua pirotecnia. O resultado é apenas mais um filme de ação mediano em um longa que prometia ir além disso.

Não é à toa que Wolverine é o mutante mais popular da franquia "X-Men". Seu jeito sarcástico, senso de justiça e sua forma bem direta e um tanto quanto violenta de se impor são marcas de rebeldia com as quais os jovens se identificam ou querem se identificar. Portanto, nada mais óbvio para um derivado da série de filmes dos heróis mutantes do que explicitar o passado do feroz mutante canadense, que foi imortalizado por Hugh Jackman nas telas. Assim nasceu este "X-Men Origens - Wolverine".

Assim como foi dito em "X-Men - O Filme", Wolverine (ou Logan, para os amigos) é bem mais velho do que aparenta, com o filme mostrando logo a infância do herói, na primeira metade do século XIX. Um trágico incidente arranca o jovem aristocrata James Howlett de seu lar, com o garoto fugindo ao lado de seu meio-irmão, Victor, e adotando o nome Logan. Diferentes dos humanos comuns, eles são mutantes, com poderes de cura (que retarda o envelhecimento de ambos), agilidade e sentidos aguçados, além de garras afiadas.

Para dar vazão aos seus instintos animais, os irmãos se tornam soldados, servindo em diversas guerras. Com o tempo, Victor (vivido na idade adulta por Liev Schreiber) vai se tornando cada vez mais descontrolado e acaba chamando a atenção para os dons que eles possuem, o que desperta a curiosidade do Major William Stryker (Danny Huston), que recruta a dupla para sua equipe pessoal, formada apenas por mutantes. A crescente violência envolvida nas missões do time faz com que Logan peça sua "demissão", se afastando de seu irmão.

Após seis anos vivendo em paz, ele acaba levado novamente àquele mundo de violência quando Stryker o avisa que Victor está assassinando seus ex-companheiros e qualquer um no seu caminho. Logan logo descobre que seu irmão não está trabalhando sozinho, o que o coloca em uma jornada de vingança que o fará escolher entre o animal e o herói dentro dele.

Esta adaptação dos quadrinhos da Marvel se utiliza de diversas HQs estraladas por Wolverine para a confecção de seu roteiro, com as duas mais conhecidas desse rol sendo "Origem" e "Arma X". No entanto, nenhum dos assuntos abordados nessas obras da nona arte são explorados profundamente pelo script, que prefere investir em grandes sequências de ação do que realmente visitar o passado e as motivações de Logan. Deste modo, acabamos sem saber muita coisa sobre a família Howlett ou mesmo sobre os grandes planos de Stryker.

Assim, não espere que este longa tenha a densidade de um "Batman - O Cavaleiro das Trevas" ou de um "Watchmen - O Filme", se aproximando mais de uma fita de ação genérica, sem se preocupar muito com os aspectos dramáticos de sua trama, apenas em apresentar a próxima cena repleta de lutas cheias de efeitos especiais, o que prejudica e muito a capacidade da película de fazer com que nos importemos com seus personagens e diminui até mesmo a inteligência destes. Fora o próprio Wolverine, que conhecemos dos outros filmes da saga "X-Men", a fita falha em gerar um vínculo entre a grande maioria daquelas figuras e o público.

No último ano, o público tem acompanhado a olhos vistos a involução dos longas de ação produzidos pela 20th Century Fox, que tem de lidar não só problemas em seus roteiros e a (in)capacidade de seus realizadores. Além disso, é preciso se preocupar com o excesso de interferência dos produtores, que tentam modificar o filme (produto) para se adequar às tendências e audiências que nem sempre combinam com o material proposto, amarrando excessivamente os cineastas. Tais modificações não se limitam ao roteiro, mas atingem também o próprio visual da fita.

Este "Fator Fox", visivelmente, foi um dos grandes problemas deste "X-Men Origens - Wolverine". Mesmo sendo descrito como uma produção violenta, não vemos uma gota de sangue em momento algum da película, mesmo quando Logan crava suas garras em seus adversários em ambientes claros, com o filme mais parecendo um game com a opção de sangue desligada.

Além disso, temos inserções de cenas "divertidinhas", colocadas no longa claramente para deixar o público jovem mais a vontade com o longa. Sequências como a que mostra Wolverine vendo suas garras no banheiro (que conta com efeitos especiais horríveis) ou a embaraçosa luta do protagonista com Blob em um ringue são dignas de um "Uma Noite No Museu", não de um filme do feroz herói.

Isso não significa que o longa seja um desastre no que concerne às cenas de ação, contando com passagens muito bem conduzidas pelo diretor Gavin Hood, como a missão do grupo mutante de Stryker, a fuga do projeto Arma X, a perseguição de helicóptero e a ótima sequência dos créditos iniciais. Hood até que se sai bem em sua empreitada, considerando as limitações e condições impostas pelos produtores. Deve se dizer ainda que a fita foi montada de maneira adequada, passando rápido e tendo um bom ritmo, sem falar nos efeitos especiais, em sua maioria muito bem realizados, mesmo com escorregões feios, como em determinadas tomadas com fundo azul e na já citada cena que se passa no banheiro.

Hugh Jackman e Liev Schreiber são os dois grandes destaques do filme, conduzindo o relacionamento de amor e ódio entre Logan e Victor muito bem. Os atores possuem uma ótima química e realmente acreditamos na relação fraternal entre aquelas figuras quase bestiais e é o carisma deles que carrega o filme nas costas. Will.I.Am, da banda Black Eyed Peas, não compromete como o teleportador John Wraith, assim como Daniel Henney, que nem fede nem cheira como o atirador Agente Zero. Ryan Reynolds, apesar de sua boa participação como o espadachim falastrão Wade Wilson, vê seu personagem ser literalmente destruído pelo roteiro, não dando motivos para o espectador esperar ansioso pelo seu possível filme-solo.

O William Stryker de Danny Huston passa longe de transmitir o mesmo temor e o respeito que o personagem transmitiu quando foi interpretado por Brian Cox em "X-Men 2". Kayla, interpretada por Lynn Collins, se torna um dos interesses românticos mais apagados que eu já vi em um filme, passando quase que em branco na produção. Dominic Monaghan e Kevin Durand fazem praticamente meras pontas como o mutante elétrico Bradley e o gigantesco Blob, com este último até tendo uma participação um pouco maior graças a sua tosquíssima luta com Wolverine. Já Taylor Kitsch até que tenta dar algum charme ao seu Gambit, mas o script torna o personagem um idiota que dá uma de Han Solo no final do filme - aparentemente a Fox teima em dar a seus filmes alguma característica da hexalogia "Star Wars".

Chega a doer pensar no potencial que este "X-Men Origens - Wolverine" tinha e ver que o resultado é apenas um genérico e mediano filme de ação, sem um décimo do conteúdo que os dois primeiros "X-Men" possuem. O espetáculo pirotécnico e as boas atuações de Jackman e Schreiber valem o esforço para conferir a fita no cinema, mas apenas isso não torna o filme memorável ou digno de fartos elogios, apesar de ser infinitamente melhor que as porcarias que a Fox anda lançando nos cinemas nos últimos tempos.

Aos fãs, que recebem até uma ou duas boas surpresas durante o longa, resta esperar que o estúdio da raposa já tenha passado a tratar seus filmes de ação com um pouco mais de respeito quando a franquia mutante for revisitada.

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