Disney em 2D: A Princesa e o Sapo
Muito se comentou sobre Tiana, protagonista deste “A Princesa e o Sapo” ser a primeira princesa negra da história dos longas animados da Disney. No entanto, a etnia da personagem, mesmo em tempos de Barack Obama, passa longe de ser um fator de muita atenção desta fita, cuja história se passa na Nova Orleans da década de 1920, em pleno desabrochar do jazz.
Tiana é uma esforçada garçonete que trabalha em vários turnos, economizando cada centavo que ganha para um dia abrir um restaurante, sonho que ela compartilhava com seu falecido pai. Certo dia, Naveen, um príncipe galanteador e boa-vida de uma nação estrangeira chega à cidade, encantado pelo jazz desta e em busca de uma noiva rica, já que seus pais cortaram-lhe a mesada.
A principal candidata ao cargo é Charlotte, uma endinheirada e mimada amiga de Tiana, que pede a garota para ajudar no baile de máscaras, no qual pretende conquistar o jovem membro da realeza. No entanto, Naveen acaba vítima do Dr. Facilier, um feiticeiro vodu que quer roubar a fortuna do pai de Charlotte, e se transforma em um sapo, com o encanto só podendo ser desfeito pelo beijo de uma princesa, tal como no proverbial conto de fadas.
Confundindo Tiana com uma princesa, Naveen lhe pede um beijo em troca de ajudá-la a realizar os seus sonhos. Assim, a pobre coitada também se vê transformada, verde e coberta de muco. Agora, o príncipe egoísta e preguiçoso e a esforçada garçonete terão de correr para voltarem às suas formas originais, contando com a ajuda do crocodilo trompetista Louis e do vaga-lume caipira Ray, vítima de um amor impossível.
Na condução de sua trama, “A Princesa e o Sapo” acaba pecando pelo excesso. Além da dupla de diretores da fita, Ron Clements e John Musker, outras quatro pessoas trabalharam no script do filme, gerando um excesso de tramas paralelas bastante incômodo. São personagens demais em tela, cada um brigando pelo seu espaço com os protagonistas, com a história jamais ganhando ritmo, algo piorado pela falta de timing dos números musicais.
O resultado é que nenhuma das figuras em tela é desenvolvida adequadamente, gerando uma lamentável unidimensionalidade para estas. Ao invés do filme focar no casal principal e no vilão da fita, com os protagonistas cruzando momentaneamente com os coadjuvantes, as histórias destes últimos acabam “roubando” muito espaço de Tiana, Naveen e do Dr. Facilier, impedindo um maior envolvimento do público com seus plots, já que muito pouco deles é mostrado de fato.
No entanto, jamais chegamos a nos importar muito com os sonhos e objetivos de Charlotte, Louis, Ray ou com o ambicioso Lawrence e uma triste prova disso é a falta de impacto de um acontecimento no último ato da projeção. As maiores risadas, vejam só, são garantidas por um trio de caçadores, cujas ações remetem a “Os Três Patetas”, algo bem longe das ambições da fita.
Um dos grandes triunfos de “A Princesa e o Sapo” é o modo como Nova Orleans fora retratada. Em sua história recente, a cidade foi palco de uma das maiores (e mais evitáveis) tragédias do nosso tempo, causada pelo furacão Katrina. No entanto, ela também serviu de berço para o jazz, um dos mais empolgantes ritmos musicais existentes. Assim, foi com imensa satisfação que a vi sendo tão importante para este projeto.
Os personagens não apenas vagam pelos cenários, eles respiram a Nova Orleans romântica, cheia de música e magia, com a ótima trilha sonora original de Randy Newman, que pode não empolgar muito nas canções, mas é simplesmente contagiante na trilha incidental. Voltando ao visual da cidade, este faz um contraste brutal entre os bairros ricos e pobres de lá, bem como dos cenários urbanos e mais rurais, o longa utiliza-se desta diversidade com elegância para realizar fabulosas transições de cenas. Além disso, cada cenário é desenhado em uma riqueza de detalhes de encher os olhos dos espectadores.
A beleza plástica do filme, mesmo sendo realizado em animação tradicional, é tremendamente imaginativa e comparável a qualquer trabalho computadorizado, com cada elemento em cena possuindo uma movimentação bastante fluida e natural. Adicione isto ao contagiante embalo da trilha sonora orquestrada e temos uma ambientação perfeita, mas pouco aproveitada pela história.
A despeito de tais falhas, os fãs ardorosos dos contos de fadas mais tradicionais da Disney irão apreciar esta jornada de volta à era das princesas do estúdio, mesmo que este retorno esteja bem longe da perfeição das fitas da Pixar em matéria de roteiro e carisma.
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